Atualizado em 03/10/2014
Qualquer banco (que não seja o banco da praça, que fica sempre lá, quietinho) trata você como rei enquanto você não precisa deles, ou seja, quando sua conta está positiva, você tem investimentos, planos de capitalização, seguros, enfim, sua empresa tem caixa. Mas no
momento em que sua empresa começa a ficar sem dinheiro, aí começam os
problemas com os bancos. O panorama a seguir provavelmente foi vivido
por você e milhares de outros empresários como nós.
Quando a empresa está com as
finanças absolutamente saudáveis, toda semana o gerente de algum banco
liga, oferecendo ótimas taxas para que você abra uma conta. Então, convencido de que só terá a ganhar, e
seduzido pelas inúmeras vantagens oferecidas, você acaba abrindo duas
ou três contas em bancos diferentes, com todos lhe dando ótimos limites, mesmo você dizendo que não quer. Para gastadores compulsivos, esses limites representam a passagem de ida para as trevas.
O tempo vai passando, e o limite continua a sua disposição. Até que sua empresa começa a ter problemas, e você utiliza o limite da conta corrente, pagando juros que hoje giram em torno de 9,5% ao mês.
Conforme o tempo passa e você continua utilizando este limite, ele se transforma em caixa e você o incorpora
na empresa, o que é um erro fatal. Sei que você está sempre na
esperança de cobrir, mas o tempo vai passando e o banco cobrando 9,5%
am. Este é um problema muito sério e você tem que resolver hoje mesmo, pois seu dinheiro está indo embora pelo ralo.
Como resolver o problema?
Ligue
para o seu gerente e diga que precisa negociar o pagamento desse limite
em doze vezes, já que os juros estão altos e você não está conseguindo
baixar o saldo devedor. Pronto, você já fez isso e ele disse que não é o
caminho ideal, que o banco vai considerá-lo um cliente que não tem
condições de honrar os seus compromissos e vai acabar não negociando com
você. Está certo, isso é comum entre gerentes de banco, porque eles
adoram que você fique utilizando o limite e pagando juros de 9,5% am.
Ou então, o gerente diz que vai aumentar seu limite para desconto de duplicatas e cheques pré. Tudo bem, não é uma ideia tão ruim. O banco lhe vende a ideia
de que troca suas duplicatas por taxas que giram em torno de 2,5 a 3%
am. Só que isso é uma grande mentira, pois eles cobram umas “taxinhas”
por título e por desconto que, no final das contas, deixam as taxas
maiores. Comparando com as taxas cobradas no limite em conta corrente, a
alternativa poderá até acabar sendo uma boa opção. Mas não se esqueça
de que isso também não resolve muito, uma vez que significa a troca de
duplicata, um claro sinal de que as finanças não estão equilibradas.
Essa prática sinaliza que sua empresa está sem dinheiro em caixa e não é
capaz de arcar com seus custos de produção. Está precisando antecipar
suas receitas para quitar seus compromissos mais urgentes e continuar a
sobreviver. Não se esqueça que, no dia do vencimento da duplicata,
aquele dinheiro vai para o banco e você vai ficar sem dinheiro
novamente. E vai ter de trocar mais duplicatas. E assim o tempo vai
passando e você trocando praticamente todos os seus títulos.
O significado disso? Passagem de primeira classe para as trevas.
Se você não tratar da causa do problema, ou seja, sua falta de caixa, a situação só tende a piorar.
Nessa hora você tem que ter sangue frio, ligar para seu gerente ou
escrever uma carta ao banco, informando que sua empresa está passando
por uma crise terrível que você não está conseguindo resolver. Deve
dizer, com clareza, que já cogita até mesmo no encerramento das
atividades caso a situação não melhore. Resumindo, ligue para seu
gerente e diga que você está quebrando, falindo, alavancado, vendendo o
almoço para comprar a janta, enfim,
agigante o problema. Assuste o sujeito, e aí sim, ele vai negociar o
seu limite com uma taxa utilizada para inadimplentes, que hoje gira em
torno de 2,0 a 3,0% am. E você já começará a sentir um grande alivio.
Vamos considerar que você está utilizando um limite de R$10.000,00
durante o mês todo e pagando apenas os juros que o banco cobra. Em
média, você está pagando R$900,00 por mês, o que vai totalizar
R$10.800,00 de juros no ano. E você continuará devendo os R$10.000,00 –
belo negócio para o banco, não? Mas, para você é péssimo.
Se negociar seu limite do cheque especial em 12 vezes, com uma taxa de 2,5% am, você vai pagar 12 parcelas de R$974,00. No final, não deverá nada para ninguém.
É isso mesmo. Mas você tem que assustar o gerente, senão ele não libera
essa condição. Ele tem que acreditar que, com o fechamento ou a
falência, o banco deixará de receber o principal, ou seja, a galinha dos
ovos de ouro morrerá. Aí, ele fará o acordo, tentando resguardar o
interesse do banco. Agora você vai me dizer: “É Fabio, realmente você
tem razão, mas não posso fazer isso. Meu gerente disse que, quando
fazemos essa composição de dívida com o banco, passamos a ser
considerados um cliente devedor. E com isso o banco não vai mais poder
descontar minhas duplicatas e nem meus cheques pré-datados”. Tudo bem,
você tem razão, isso acontece mesmo. Mas tem um jeitinho de resolver
isso. Aproveite que você está com o nome limpo e abra uma conta com um
daqueles gerentes chatos, que viviam ligando e comece a fazer suas
trocas com o novo banco. Mas não peça limite, senão você estoura também.
Nesse momento não é hora de conseguir mais credito. Após a abertura da
nova conta e sua carteira de descontos liberada, aí sim, você dá o susto
no seu gerente e acaba de vez com aquele limite. Muitos empresários têm
medo de ficar sem limite. Mas, se você pensar bem, quando seu limite
está estourado você não o tem. Logo, se cair um cheque, ele vai ser
devolvido do mesmo jeito. Assim sendo, não fique com medo e vá em
frente.
Outra situação muito comum é a empresa estar com a conta estourada, pagando 9,5% am,
e com dinheiro aplicado na poupança rendendo míseros 0,7% am. Ou em
planos de capitalização, que não rendem quase nada e que, se você
retirar antes do tempo, ainda perde em média 30% do principal. Ora,
nesta hora tão grave não adianta poupar. O mais indicado é retirar esse
dinheiro e quitar suas dívidas com juros mais altos, geralmente o cartão
de crédito, hoje na casa de 12% am e o limite de cheque especial, em torno de 9,5% am.
Mas atenção, não confunda as coisas. Às vezes você pode ter uma poupança que é sua reserva e, lendo o que eu disse, vai lá e acaba com ela, coloca os recursos na empresa. Depois de seis meses você quebra e fica sem poupança e sem empresa. Tenha
muito cuidado ao interpretar a minha colocação. Quando falo para
retirar o dinheiro de uma eventual poupança pessoal e utiliza-lo, é para
os casos em que você ainda tem controle sobre a empresa, já identificou
o problema e sabe que vai ser resolvido. Em casos extremos de
endividamento, não adianta colocar dinheiro bom em coisa ruim, porque aí
você vai realmente ficar sem nada. Será a mesma coisa que jogar
gasolina para apagar o fogo.
Você
deve estar pensando que estou revoltado com os bancos, o que não é
verdade. O que ocorre é que percebo que quando tenho dinheiro eles me
oferecem dinheiro, limites, descontos de duplicatas, seguros, planos de
capitalização, enfim, ficam o tempo todo me bajulando, me tratando como
um rei. Quando preciso de capital, quando as coisas não estão indo bem,
começam a cortar tudo, me colocam em segundo plano, tiram a minha coroa.
A
imagem que uso é a de que o banco oferece guarda-chuva em dia de sol.
Na hora da chuva, quando você mais precisa, deixam você sem cobertura
para resolver o problema sozinho. Não acho, inclusive, que eles estejam
errados. Às vezes a empresa está prestes a quebrar e os bancos não querem perder mais do que já estão perdendo. Mas isso é uma relação muito complicada.
Veja
só que coisa engraçada. Algum dia você já ouviu alguém dizendo que um
Banco Federal tem uma linha de crédito fantástica com taxa de 1,0% am
para Capital de Giro? Pois bem, você fica todo animado, pensa que com
esse recurso barato poderá colocar dinheiro no Caixa, pagar alguns
compromissos atrasados e, quem sabe, investir um pouco na empresa e
acaba indo até o banco. Chegando lá, depois de umas duas horas no meio
daquela multidão querendo receber FGST, PIS, seguro desemprego, enfim o
caos, você é atendido por algum funcionário público (geralmente mal
humorado). E, de imediato, o funcionário pede uma lista enorme de
documentos e exigências, tais como, certidão negativa de todos os
impostos, sua empresa tem que ter um certo tempo de existência (creio
que dois anos), balanços, IR.
Bem,
você que está aí lendo esse texto e que tem uma empresa passando por um
momento difícil, suas vendas caindo, estourado no banco, perdendo
clientes, matando um leão por dia, se encaixa nesse padrão? Você acha
que quem está em dificuldades consegue pagar imposto em dia? Entre seus
funcionários e o governo, quem você paga em primeiro lugar? Entre sua matéria-prima e o governo,
quem vai ver seu dinheiro primeiro? Não preciso nem dizer. É claro que
quando estamos em dificuldades não conseguimos pagar impostos e consequentemente não conseguimos a tal linha de crédito dos Bancos Federais. Resumindo, os Bancos Federais também só oferecem guarda-chuva em dia de sol.
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